“As árvores eram altas e triangulares. Permaneceram caladas. Liesel tirou da bolsa ‘A sacudidora de palavras’ e mostrou uma página à Rudy. Nela havia um menino com três medalhas penduradas no pescoço.
– ‘Cabelos da cor de limões’ – leu Rudy. Seus dedos tocaram as palavras. – Você falou de mim com ele?
No começo, Liesel não conseguiu dizer nada. Talvez fosse a súbita turbulência do amor que sentiu por ele. Ou será que sempre o tinha amado? Era provável. Impedida como estava de falar, desejou que ele a beijasse. Quis que ele arrastasse sua mão e a puxasse para si. Não importava onde a beijasse. Na boca, no pescoço, na face. Sua pele estava vazia para o beijo, esperando.
Anos antes, quando os dois haviam apostado corrida num campo lamacento, Rudy era um conjunto de ossos montado às pressas, com um riso irregular e hesitante. Sob o arvoredo, nessa tarde, era um doador de pão e ursinhos de pelúcia. Um tríplice campeão de atletismo da Juventude Hitlerista. Era seu melhor amigo. E estava a um mês de sua morte.
– É claro que falei de você com ele – Disse Liesel.
Estava se despedindo, e nem sabia.”
(A menina que roubava livros)
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